Portfólio

Chegou aquela altura em cada quinquénio de renovar o portefólio. E não é coisa simples.

Este ano decidi, além de renovar o website, fazer um portefólio físico, em papel, impresso, em papel. Sim, papel.

E porquê, estará o caro leitor a perguntar-se, e com toda a razão, nesta altura do digital de instagram, e snapchat, e twitch, se fará um portfólio pintado em corpo de árvores mortas? Primeiro, essa é uma maneira um tanto ou quanto mórbida de se colocar a questão, de certeza que há locais onde pode procurar ajuda, segundo, hoje em dia a presença de um fotógrafo tem que ser multi-forcada, tanto on-line como IRL.

O trabalho de portefólio acaba por ser continuo, à medida que projectos interessantes vão aparecendo, vai-se actualizando com as newsletters, o site, redes sociais, etc. No entanto, chega uma altura em que é necessário começar do inicio. E porquê? Bem…


Um portefólio além de ser uma simples coleção de imagens, vive da fluidez, do ritmo da passagem de uma imagem para a seguinte, e com o tempo, à medida que novas imagens vão entrando, vão quebrando este ritmo. Inevitavelmente é necessário voltar a repensar nestas questões, integrando as imagens que entraram entretanto, e dado que vamos fazer uma nova apresentação do trabalho, será importante apresentar novas imagens. Ninguém quer ver algo novo, só para ver a mesma coisa simplesmente com uma capa nova.

A grande dificuldade na seleção não é só escolher quais são as melhores fotografias, se bem que mesmo esse processo pode ser cruciante, será mesmo manter a fluidez num portefólio, pois nem sempre é possível fazer a passagem de uma imagem para a outra de um modo agradável. Por fluidez, quero dizer que quando apresentamos imagens contiguas, estas têm que ter uma ligação entre sí, quer seja a nível de tema, de cor, ou forma. E isto é imperativo simplesmente para que a experiência de ver o portefólio seja positiva, agradável.

E muitas vezes, isto quer dizer que aquela fotografia espectacular não tem posição em lado nenhum do portefólio. Que fazer? Bem, caro leitor, não vai gostar da resposta. Aqui ajuda ter em mente William Faulkner e o seu mantra - Kill Your Darlings. Se uma fotografia não tem lugar no portefólio, corta-se. Qualquer vantagem de ter essa imagem especial é negada se não se enquadrar no resto das imagens.


Por muito boas que sejam as fotografias, se a experiência de ver umas quantas dezenas de imagens for menos positiva, o mais provável é o receptor não chegar ao fim e fechar o livro ou site ao fim de algumas imagens. E se este for um cliente potencial, todo o tempo que este se mantiver activo e captivo, aumenta a possibilidade de eventualmente se tornar um cliente pagante.

E aqui chegamos ao ponto onde me encontro, em edição activa de imagens. Tirar fotos que já não fazem sentido, ou deixaram de representar o meu trabalho e criar conjuntos de imagens que funcionem, e tentar criar uma sequência. É esse o plano.


Pendurar fotografias na parede do quarto. Olhar para elas todos os dias. Fazer ajustes. Identificar os vazios. Ir aos apontamentos e ver que ideias poderão funcionar para preenche-los. Criar novas imagens. Imprimir. Fixar à parede. Reavaliar. Mudar sequência. Repetir.
Quanto à questão de criar novas imagens, quero fazer um post dedicado a essa ideia no futuro. Para já, quero deixar esta ideia de fluidez da sequência do portefólio, e o quanto difícil é este processo, mas também o quão importante é.



Mais para breve.


Eu, Carlos Teixeira

Queria fazer este primeiro, não oficialmente, post do blog para explicar um pouco quem sou e o que faço. Da mesma maneira que se estiver a ler isto, esteve até à bem pouco tempo a perguntar-se quem é este gajo e o que faz. TL:DR Carlos Teixeira, e sou fotógrafo de produto.

O meu trabalho como fotografo é relativamente recente, até há cinco anos atrás era designer industrial, e até que as coisas corriam bem, tinha um bom emprego, fazia projectos variados e interessantes, e tenho bons amigos dessa época, mas queria algo mais, no que respeitava o trabalho. Na altura, além do desenvolvimento de produto para a marca onde estava, uma das coisas que fazia era a fotografia para catálogo e promoção da marca, e no meu último ano a trabalhar nessa empresa, e consequentemente como designer, tinha mais prazer no tempo que passava no estúdio do que em qualquer outra coisa que fazia.

Altura de auto-avaliação pessoal e profissional.

Profissionalmente é uma das coisas mais difíceis que se pode fazer, deixar o conforto de um ordenado, de uma rotina, para ir fazer algo que iria requerer mais trabalho, mais dispersão, e mais negação. Mas quando é a única opção, toma-se por si por defeito. A quem já passou por isto antes concorda, decerto o mais difícil para mim foi confrontar toda a gente envolvida na minha vida, e ver a surpresa, seguida de dúvida, deixando sempre presente o quão ridículo é deixares uma coisa certa e boa para ires trabalhar por conta própria, que tolice. Cinco anos depois, concordo. Mas não havia outra hipótese. Difícil mesmo foi mesmo dizer à minha mãe. isso e impostos.

É certo que em cinco anos há coisas que se têm tornado mais fáceis, tenho uma carta de clientes que me mantêm ocupado e alimentado, e dá-me tempo e espaço para fazer alguns projectos pessoais que me vão preenchendo. Mas sinto uma certa inquietação, de querer mais, de querer fotografar tudo e mais, e de isto nem sempre ser possível. De querer que tudo aconteça de uma vez, imediatamente, mas saber que tudo isto é um processo, e que há passos a dar antes de lá chegar, e que provavelmente irá tudo correr bem. Talvez tenha algo a ver com o meu défice de atenção.

Entretanto, vou procurando coisas novas para fotografar, novos desafios, novas ligações, novos amigos.



Mais para breve.


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