A importância do equipamento

A importância do equipamento

Em cada geração de fotógrafos que vão aparecendo, volta esta questão, vezes e vezes sem conta. Equipamento é importante? Antes de tentar dar resposta a essa ubíqua pergunta, vamos desconstruir a questão, o que quer dizer “importante”? Se eu não tiver o equipamento que eu preciso para fazer a imagem que tenho em mente, então o equipamento parece-me importante. Bastante importante. 

Mesmo quando eu uso uma Holga ou uma Lomo, faço-o porque procuro uma qualidade estética específica nas minhas imagens. Mesmo sendo material relativamente barato, este é bastante importante para o meu trabalho, e para o resultado final. Caro leitor, isto foi só para marcar este ponto, apesar de ter uma Holga, não a uso, serve apenas de peso para segurar a porta do escritório aberta. A este ponto o caro leitor está a perguntar-se como é que uma máquina toda feita em plástico tem peso suficiente para manter uma porta aberta? A porta não tem problema nenhum, mantém-se aberta perfeitamente.

Parece então que esta questão prende-se mais com o facto de que necessitamos de equipamento, se queremos obter um determinado resultado. O facto de este equipamento ser o topo de qualidade de imagem em médio formato, a mirrorless que consegue colocar todas as funções e mais algumas dentro de um pacote micrométrico, uma máquina grande formato 8x10 submersível, uma caixinha de plástico preta com uma lente igualmente polimérica, só importa se for exactamente o necessário para que o fotógrafo execute as imagens que pretende.

Agora, este ponto em particular parece-me ser sempre omitido destas discussões, porque invariavelmente todo comentador internauta só ao acusar as massas de comprar material qualitativa e quantitativamente superior às suas necessidades é que obtém likes. Mas então a resposta é mesmo essa, não é que o material seja ou não importante, ou inútil, ou desnecessário, é simplesmente a motivação de quem o compra é que pode ser problemático.

Invariavelmente o profissional compra material que necessita para fazer fotografia com a melhor qualidade possível para o seu cliente (foi por essa mesma razão que dolorosamente comprei a minha D810). Um profissional que não mede o retorno de investimento para cada peça de equipamento que tem, não durará muito tempo com negócio aberto. E é verdade que muitas vezes temos material que não é essencial com regularidade, mas se for algo que tenho quando preciso, ou me poupa tempo só por o ter, então vale a pena o investimento. Tempo é o recurso não-renovável que tem que ser bem gerido, e tudo que mo faça poupar em projectos, vale o seu peso em… vá, celulose!

O entusiasta compra material porque é um hobby, seja fotografar ou coleccionar material, pessoalmente vejo esta categoria de pessoas como essenciais para manter as marcas de equipamento vivas, porque se estas dependessem dos profissionais para se manter em funcionamento, os preços seriam abismais (ver Hasselblad, Phase One, e Sinar). A diferença na quantidade de produção de equipamento virado para profissionais e para os hobbyistas, é bastante grande e bom indicador deste facto. O entusiasta não depende do material para gerar dinheiro, este gera dinheiro de outras fontes e usa-o para comprar material. A sua motivação é diferente, e pode nem ter a ver com fotografia necessariamente. Máquinas fotográficas são objectos fascinantes, e tão válidos de possuir como um carro desportivo, um cavalo ou uma “trophy wife”, quem tem capacidade monetária de adquirir um, tem toda a liberdade moral de o comprar.

O “fotógrafo”, de todas estas espécies, este é o verdadeiro fotógrafo, aquele que o faz por amor puro à fotografia, independentemente do que tem nas mãos para fotografar. Normalmente identificam-se por operar uma peça de equipamento quase obsoleto, bem usado e polido, com uma patina de pó, sal, e flocos de pele seca em todos os recantos do corpo da máquina. Por norma o sentido estético de moda acompanha a mesma tendência do material que possui, com sapatos confortáveis, uma espécie de colete com imensos bolsos, e uma qualquer espécie de boina a cobrir a cabeça. Fascina-me o tipo que  comprou uma máquina há dez anos atrás, e ainda não teve qualquer razão para a trocar, nem o fará enquanto não tiver razões para o fazer. Afinal a câmara ainda funciona, e as imagens são tão boas agora como no primeiro dia em que a comprou. Parece-me que há aqui algo a dizer sobre evolução e estagnação, mas seria fora do âmbito deste post.

Agora, acho legítimo o argumento de que o material não faz o fotógrafo, ninguém se torna um profissional consumado porque comprou o novo modelo de máquina full frame, comprou o mais recente strap multifuncional em couro italiano, ou o mais recente flash externo a bateria com HSS e controlo remoto por rádio. Experiência e formação fazem o fotógrafo, equipamento e material elevam os resultados, mas dizer que este não é importante é treta. Senão ainda estaríamos todos a fazer daguerreotipos… E que dizer da meia dúzia de tipos que ainda hoje se dedicam a fazer disso?

Material não informa o fotógrafo, mas o fotógrafo informa-se de material. Não sei se fez muito sentido, mas o caro leitor sabe o que eu quis dizer.

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